Desafio de execução do reforço de 41 ME do Solenerge está do lado das empresas

Berta Cabral alerta as empresas açorianas para a necessidade de garantirem a execução do reforço de 41 ME do Solenerge, apelando inclusive a parcerias nacionais. Descarbonização e segurança do abastecimento foram identificados como os principais desafios do setor elétrico na Região Autónoma dos Açores



A secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, Berta Cabral, alertou as empresas que operam nos Açores para a necessidade de garantirem a execução do reforço de 41 milhões de euros (ME) do sistema de incentivos para instalação de painéis fotovoltaicos Solenerge, apelando à concretização de parcerias com empresas nacionais de forma a assegurar o fornecimento de equipamentos e a capacidade técnica de instalação.

À margem da conferência “Os Desafios do Setor Elétrico na Economia dos Açores”, que decorreu na Universidade dos Açores (UAc), a governante garantiu que a Direção Regional da Energia tem “capacidade para analisar” as cerca de três mil candidaturas do Solenerge que ficaram em ‘stand-by’, quando se esgotou a dotação de 19 ME prevista, e alertou que a execução do reforço de 41 milhões de euros do sistema de incentivos está agora do lado das empresas.

“Fica do lado das nossas empresas conseguirem fornecer equipamentos para executar esses 41 ME. O desafio de analisar, nós já entrámos em velocidade cruzeiro. Portanto, a Direção Regional da Energia já tem prática e esse não será um problema. O problema pode-se colocar é no fornecimento de equipamentos, dado que de facto 41 ME de equipamentos elétricos é um valor bastante robusto”, alertou. 

Nesse sentido, a secretária regional considerou que “as nossas empresas e os nossos empresários têm que fazer parcerias com os nacionais e arranjar forma de conseguirem abastecer os clientes e as candidaturas que nós temos, de maneira a podermos executá-las em tempo útil”, frisou.

Para Berta Cabral, seria “lamentável” que a Região não conseguisse “aproveitar” os fundos comunitários devido à falta de resposta das empresas regionais. “Temos 41 ME para executar, só espero que o mercado responda rapidamente a esse desafio”, salientou.

Na conferência sobre os desafios do setor elétrico na economia regional, promovida pela EDA e pela Faculdade de Economia e Gestão da UAc, a secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas destacou o sistema elétrico “complexo” que existe nos Açores, composto por “nove subsistemas”que tornam “muito mais difícil a estabilidade da rede, a segurança do abastecimento e a capacidade de introdução de energias renováveis em cada uma dessas pequenas redes”.

À margem do evento, também o presidente do conselho de administração do Grupo EDA, Paulo André, considerou que a segurança do abastecimento elétrico e a descarbonização são os “principais desafios” para “garantirmos um futuro e um melhor amanhã”.

“Estamos a encontrar as melhores soluções e as soluções tecnicamente possíveis para o poder vencer.  Não podemos esquecer que a segurança de abastecimento é um tema muito importante que está em voga, tendo em conta os últimos acontecimentos que tivemos. Mas temos as nossas medidas e os nossos planos de contingência para tentar fazer face a avarias e arranjar soluções de recurso e evitar cortes [de energia] muito prolongados”, garantiu. 

Em declarações aos jornalistas, Paulo André explicou que a segurança de abastecimento de energia nas nove ilhas dos Açores é assegurada com grupos térmicos que utilizam combustíveis fósseis”.

“Temos que ter sempre um número mínimo de grupos térmicos em serviço para não colocar em causa a estabilidade do sistema elétrico. Mas maximizando sempre a penetração de energias renováveis quando elas estão disponíveis, porque o vento e o sol não estão disponíveis 24 horas por dia”, salientou.

Questionado sobre a possibilidade de um apagão elétrico na Região, à semelhança do que aconteceu em abril deste ano no continente, o presidente da EDA realçou que “estamos sujeitos aos mesmos riscos e às mesmas situações”. 

“Também temos cortes gerais nas nossas nove ilhas. Não acontece com muita regularidade, felizmente, mas acontece. Como nós temos sistemas elétricos mais pequenos, algumas dessas avarias são mais fáceis de repor o abastecimento às populações e não são muito demorados”, destacou, dando como exemplo uma avaria “grave” que aconteceu na Terceira em 2012 e que deixou a ilha sem energia durante sete horas.

Sobre possíveis consequências do recente apagão nacional nos Açores, Paulo André ressalvou que “o problema das comunicações poderia ter colocado em causa o fornecimento de energia” na Região.

“Havia o risco do sistema nacional de comunicações entrar em falência e, se acontecesse, também teríamos falência de alguns equipamentos aqui nos Açores porque perderíamos a capacidade de controlar os remotamente. Foi uma situação que tivemos de acompanhar de perto e, felizmente, não foi preciso ativar nenhum plano de contingência. Mas, se fosse necessário, já tínhamos medidas pensadas para poder mitigar esses efeitos na Região”, garantiu.

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