De uma forma geral, como é que resume esta época de regresso do Marítimo à II Divisão nacional de hóquei em patins?
Embora esta divisão seja muito competitiva, mesmo e apesar de termos um plantel curto e com muitos jovens, sabemos que tínhamos valor para conseguir a manutenção.
Portanto, se por um lado ficámos felizes pelo
regresso à II Divisão, por outro, foi uma grande desilusão não termos
alcançado a manutenção que era o nosso principal objetivo.
O início não foi nada fácil, com muitas derrotas consecutivas, algumas em jogos disputados até ao último segundo. Como conseguiu manter o grupo ligado e focado no objetivo da manutenção?
Em termos humanos e de capacidade
de aliança, este foi provavelmente o melhor grupo que já tivemos no
Marítimo Sport Clube. Sem dúvida que houve muito trabalho da minha
parte, do Miguel Áspera e do Mário Vieira para manter o grupo unido e
focado, mas, sem o capital humano que eles próprios traziam na suas
bagagens seria impossível.
O nosso mérito foi fazer-lhes acreditar no seu potencial individual e coletivo e transmitir-lhes em cada treino que eles tinham a capacidade de reescrever a história deste campeonato e, no fundo, foi isso que fizeram na segunda volta.
Numa altura em que a despromoção parecia quase certa, a sua equipa reagiu e esteve na luta pela manutenção até praticamente à última jornada. A que se deveu esta reação?
Sabíamos que depois de fazer um ponto na primeira volta seria quase impossível alcançar a manutenção. Mas, no desporto e na vida, quase impossível, não é impossível!
Depois, como lhes dissemos sempre, tínhamos duas opções: desistir ou continuar a acreditar! O grupo optou sempre pela segunda opção. E nós nunca permitimos que a primeira possibilidade fosse opção! A verdade é que foram gigantes até ao último segundo deste campeonato! Para além deste posicionamento emocional coletivo, fomos recuperando jogadores que estavam com lesões prolongadas (Vicente e Tino), o grupo passou a ter uma maior assimilação dos processos que definimos e um maior conhecimento das características de jogo dos novos colegas. Acresce o facto de eu e o Miguel nunca termos abdicado daquele que assumimos como o nosso modelo de jogo e com insistência conseguimos passar a mensagem aos atletas. Penso que foi esta a receita que permitiu a reação que apresentamos na segunda volta e que nos permitiu, a nós treinadores e clube, terminar como começamos, isto é, orgulhosos do grupo que formámos.
Apesar do “sprint” final, não foi suficiente para evitar a despromoção. Sente que a história poderia ter sido outra se a equipa tivesse conseguido somar mais pontos na fase inicial da época?
Quando programamos esta época, a nossa expectativa era fazer um campeonato tranquilo, sempre fora da linha de água. Isso implicava nas nossas contas fazer entre 26 e 28 pontos, 13/14 em cada volta e foi isso mesmo que transmitimos ao grupo. Conseguimos fazê-lo na segunda mas, na primeira volta, faltou-nos competência, sobretudo no capítulo da finalização, da responsabilidade no cumprimento da estratégia definida e de interpretação dos processos estabelecidos. De facto, teriam bastado mais 9 pontos na primeira volta para nos termos mantido na II Divisão.
Irá manter-se no comando técnico do Marítimo na próxima temporada?
Com muita pena minha, não irei continuar no comando do técnico do Marítimo. A minha decisão estava há muito tomada e já a tinha transmitido ao clube, na pessoa do Liberal Carreiro. E os motivos prendem-se essencialmente com cansaço (são 47 anos ligados à modalidade, 20 deles como treinador de seniores) e, sobretudo, com a necessidade de dar mais atenção aos meus filhos (Júlia, Gabriel e Luana) e à minha companheira Isa carreiro que me permitiram ir vivendo esta paixão pelo hóquei sem qualquer cobrança. Aproveito para agradecer ao Marítimo Sport Clube, muito em particular ao Dr. Óscar Rocha, ao Marco Resendes e ao Liberal Carreiro que, há cerca de 14 anos, me vestiram de azul e branco da Calheta e me deram a possibilidade de viver a minha modalidade dentro de um clube tão especial. Uma vez Marítimo, para sempre Marítimo!