Luís Bidarra viveu a sua infância e juventude numa aldeia muito próxima da cidade da Guarda. Uma aldeia que “hoje em dia já não é uma aldeia, é uma extensão da cidade, mas a minha infância foi como se vivesse numa pequena aldeia, onde a maior parte dos habitantes eram trabalhadores fabris da Renault, sendo todos quase como irmãos”, começa por nos dizer o promotor e diretor do Pico Zen Festival.
O também fundador e CEO da empresa Inn Nature conta-nos que, tal como muitos jovens, “tive de sair da aldeia para ir estudar para a cidade e fazia-o de autocarro todos os dias”, sublinhando que “no fundo, a minha infância foi assim, com muita liberdade em que saímos de casa às 8h00 e só regressávamos pelas 18h00/19h00, e sentíamos tranquilos, sem qualquer visão de perigos”.
Formado em Engenharia Geográfica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Luís Bidarra lembra que a cidade da Guarda, em termos estudantis, tinha uma grande proximidade com Coimbra, “muito mais do que Lisboa ou Porto, e havia uma tendência, depois da conclusão do secundário, de os estudantes procurarem a Universidade de Coimbra”.
Como qualquer outro estudante, “há sempre uma indecisão do que se quer ser na vida, o que se vai escolher e era uma decisão muito importante”, afirma, explicando que na ocasião havia um curso de Engenharia Geográfica, “era um curso praticamente lecionado em Lisboa e Coimbra - penso que mais tarde passou a existir no Porto -, mas era uma engenharia muito ligada à área da geofísica, ao sistema de informação geográfica. Portanto, tinha uma componente muito abrangente e era uma área que gostava muito”.
A sua vinda para os Açores acontece, precisamente, devido ao seu trabalho. Conta-nos que estava num projeto académico e “um professor propôs uma viagem aos Açores para montarmos as primeiras redes geodésicas digitais e viemos um grupo de estudantes”, frisando que estiveram em algumas ilhas dos Açores, durante um largo período de tempo, onde “fizemos a implementação desta rede em pontos estratégicos que hoje em dia ainda suportam a engenharia e a topografia na região”.
Durante a sua permanência nos Açores “conheci a minha mulher. Ela foi como uma cicerone para nós porque nos acompanhou na parte logística”.
Mais tarde, já a residirem em Lisboa e devido à crise em Portugal, em 2008, “deixaram de existir grandes oportunidades em Lisboa e tínhamos duas hipóteses, ou ficávamos no país ou íamos para o estrangeiro. A nossa ideia era sempre a de ficar no país”, confessa. Houve, então, a “possibilidade de a Ana (esposa) ir trabalhar para a ilha Terceira como professora”. Dado à “forte ligação que tinha com os Açores e a vontade de querer algo na região, decidimos abrir um alojamento turístico no Pico, numa altura em que a ilha estava a dar os primeiros passos no alojamento. Mas não fomos diretamente para o Pico, tivemos que fazer uma ‘paragem’ na Terceira, durante dois anos”.
Luís Bidarra refere que a criação da Inn Nature surge da necessidade “de abranger várias atividades ligadas ao turismo. Como estávamos fixos no Pico e, ao olhar à nossa volta, estávamos a ter uma perceção de que havia um grande potencial na área do alojamento, pela circunstância de ser uma ilha, pelo facto de começar a existir mais investidores na ilha - muitos deles deslocados e com alguma capacidade monetária para investir na ilha -, mas, ao mesmo tempo, com dificuldade em gerir. Então, envergamos nesta frente, em tentarmos ajudar quem quisesse investir no Pico”.
Conta-nos ainda que “durante este processo nasceram as nossas filhas e como qualquer pai, pensamos naquilo que a ilha não tem mas que poderia dar. Por outro lado, também por influência de uma familiar nossa e que também tinha uma ligação muito forte com a ilha, surgiu a ideia de criar a marca Pico Zen”.
Luís Bidarra salienta que a ideia surgiu por forma a “darmos às nossas filhas e aos habitantes locais - que muitas vezes têm alguma dificuldade a ter acesso a determinados conceitos - uma alternativa, onde eles pudessem participar como artistas, mostrar os seus talentos ou participarem como facilitadores”. Ao mesmo tempo “colocar esta marca como um potencial turístico, ou seja, que houvesse uma justificação na ilha para que outros pudessem visitá-la ao abrigo do festival. A verdade é que a rede foi aumentando, de ano para ano, quer a nível de facilitadores locais quer ao nível de participantes”.
Questionado sobre o que o faz ficar nos Açores e o que mais lhe encanta, Luís Bidarra, afirma que “primeiro, tenho a minha família, embora os meus pais não estejam cá. Depois, já criei raízes no Pico”, destacando ainda a “ligação ao mar, o clima, a natureza, o modo de estar mais calmo e mais tranquilo. Mas, fundamentalmente, esta proximidade com o mar é algo que não tive durante a minha infância porque vivia no interior”.