O Museu de Marinha, em Lisboa, recebeu a apresentação de duas obras baleeiras açorianas, da autoria da José Carlos Garcia, no Museu de Marinha (Lisboa), no passado dia 16 de abril.
Em causa a 3.ª edição da ‘AIndústria Baleeira dos Açores’, e o volume número 10 da coleção Etnografia dos Açores, intitulado ‘Marilu SG-120-B Sobre um bote baleeiro da ilha Graciosa-Açores (1952-2024)’.
Conforme explica, em entrevista ao Açoriano Oriental, o sociólogo e investigador na área da antropologia, José Carlos Garcia, esta terceira edição do livro, lançado um ano depois da segunda edição, conta com a adição de “pequenos pormenores e pequenas melhorias residuais”.
Conforme recorda o sociólogo, este livro é uma forma de dar a conhecer a indústria baleeira aos “curiosos e investigadores”, bem como quaisquer pessoas que querem aprofundar o seu conhecimento desta matéria, que resulta de “investigações de mais de 20 anos”.
Já em relação ao volume 10 da da Etnografia dos Açores, José Carlos Garcia indica que este trabalho foi “uma feliz coincidência”, porque recebeu do Governo dos Açores um pedido de parecer, uma vez que o bote “está sob a alçada do Museu da Graciosa” e queriam saber mais sobre ele, nomeadamente as características, a história.
Por este motivo, decidiu que este seria um bom trabalho para publicar e, de igual modo, uma forma de “divulgar a cultura baleeira e conhecer um bote que foi patrimonializado”, tendo em consideração que esta embarcação faz parte da lista de embarcações consideradas Património Baleeiro Regional.
Esta obra, apresentada pelo micaelense Pedro Bicudo, que está a tirar doutoramento em história marítima, retrata este bote, construído em 1952 por um construtor da ilha do Pico que vivia na ilha Graciosa, explica José Carlos Garcia.
Segundo o investigador, Cristóvão da Mota Soares terá mandado construir este bote para a usa empresa baleeira, tendo depois sido adquirida em 1964, um ano depois de este senhor ter abandonado a baleação.
A embarcação continuou a ter uso até ao fim da baleação na Região Autónoma dos Açores, na década de 80, sendo depois adquirida por uma entidade que a posteriormente cedeu ao Museu da Graciosa.
“No fundo, explicamos todo o percurso social do bote desde quem o construiu e toda a sua trajetória e porque tem o nome de Marilu”, prossegue José Carlos Garcia.
A embarcação recebeu o nome de uma menina que, em 1952 tinha oito anos e que ainda hoje em dia é viva. Esta rapariga era “filha de um sócio do senhor Cristóvão [da Mota Soares]”, indica o investigador, acrescentando que ela acabou por se casar com um filho deste antigo armador baleeiro, e que hoje em dia vivem em Cascais, sendo que terá a oportunidade de os conhecer.
Sobre fazer esta apresentação no Museu de Marinha, o antropólogo salienta que esta foi uma “oportunidade” de levar uma interpretação sobre a indústria baleeira açoriana para espaços fora dos Açores, neste caso em Lisboa, cidade onde explana que há um bote baleeiro: o ‘Ponta Delgada’, da ilha das Flores.
“Há aqui uma construção do próprio conhecimento, um olhar sobre nós próprios sob uma perspetiva científica”, prossegue, salientando que está satisfeito porque: “Esta foi uma forma de sair dos Açores e comunicar uma interpretação que temos sobre a sua indústria, cultura baleeira e todos os processos que levaram ao seu património e à museografia da baleia”, sustenta.