Na rua Coronel Miranda, freguesia de São Pedro, concelho de Ponta Delgada, as noites há muito que perderam o sossego. Toxicodependentes tem rumado a esta artéria da cidade de Ponta Delgada para consumir, sem pudor por quem lá vive: bebés, crianças, adultos e idosos são confrontados com seringas largadas à porta de casa, discussões e berros a meio da noite, dejetos humanos feitos no meio da rua.
O Açoriano Oriental foi falar com os moradores, que a coberto do anonimato - por receio de represálias - confirmam o cenário descrito, pedindo que se faça algo pelo seu bem-estar e segurança.
Carregando as compras do supermercado, a senhora “Alzira” partilha o seu medo de sair à rua, a partir de uma determinada hora. Idosa e a morar sozinha, já instalou uma câmara na porta, “para quando me batem à porta saber quem é”.
Diz que são “aos três e quatro, de cada vez”, que ultimamente juntam-se na travessa que dá para a Rua de São Miguel, “mas já tiveram vezes de estar à porta das nossas casas”.
Mais abaixo, “Sónia”, a sua filha “Amália” e o namorado desta apontam para uma casa, onde a entrada é recuada e o morador tentou de tudo para que não usassem o seu espaço como local de consumo.
“O vizinho chegou a colocar cal no chão, mas eles trazem caixas de cartão e metem por cima”. Na casa ainda é visível os restos de cal e também um cartaz, que pede encarecidamente para que não se consuma naquele espaço.
“Amália” diz que já perdeu às vezes que, a altas horas da madrugada, é acordada pelos gritos e desavenças na rua. “Já tive de vir várias vezes à janela mandar um berro. Isto às 2h da manhã, quando uma pessoa tem de acordar às 7h00 para ir trabalhar”.
“Se eles tivessem uma zona para consumir, acho que era uma forma de resolver o problema. Acredite, as ruas ficavam desertas”, acrescenta “Amália”.
A mãe “Sónia” adianta que vive “em receio”, porque apesar de nunca terem sido ameaçados, “nunca se sabe o que eles podem fazer quando estão sobre o efeito das drogas”.
“Carlota”também compartilha que não teve conhecimento de qualquer ameaça física aos moradores: enquanto o seu filho espera sentado no carrinho, a residente na rua Coronel Miranda conta que já chamou várias vezes a polícia. “Mas não resolve muito. É horrível, porque gostava que o meu filho fosse a pé para a escola, mas assim não sinto segurança”. Se o problema não for resolvido, “Carlota”não vê grande solução “se não mudar de casa”.
Enquanto o jornalista do Açoriano Oriental fotografava o aviso colocado à porta de uma das casas, um morador interpelou-o. “Senhor, o que se passa nesta rua é uma vergonha. Eu também consumo, mas não o faço aqui. Há crianças, eu próprio tenho dois filhos”. O depoimento é de “António”, que partilha ainda que vai para o parque de estacionamento São Francisco Xavier, “atrás de um carro, onde ninguém me vê”.
Estas e outras reclamações já chegaram à Junta de Freguesia, confirma o seu presidente, JorgeOliveira. “Não só nesta rua, mas em várias ruas da nossa freguesia. Aliás, é em toda a cidade que sabemos que o que está a acontecer”.
O autarca de São José reconhece que é um problema “muito grave e que de dia para dia vai agravando”, assumindo que todas as queixas feitas na junta, “são remetemos para a PSP, para a Câmara e para as entidades competentes. Agora se há meios, se se faz intervenção...”, deixa no ar.
Para Jorge Oliveira, é vital haver mais policiamento de proximidade e passar das palavras aos atos. “É preciso uma intervenção, e não é só dizer, temos que ir para o terreno. Ponta Delgada é uma cidade segura? É. Mas já foi mais segura”.