Centenas de pessoas reuniram-se ontem nas Portas da Cidade, em Ponta Delgada, para assinalar os 51 anos do 25 de Abril.
O evento, organizado pela Associação Promotora das Comemorações do 25 de Abril em Ponta Delgada, teve como mote “Sopros de Liberdade” e contou com atuações de seis das bandas filarmónicas mais antigas de São Miguel. Cada banda interpretou canções de Zeca Afonso, símbolo da resistência ao antigo regime.
“Este núcleo de cidadãos, que compõem a Associação 25 de Abril de Ponta Delgada, não quer deixar morrer os princípios e os ideais de Abril e, teimosamente, vai fazendo essas comemorações, sempre com a ideia de contagiar as gerações mais novas para serem elas, efetivamente, a pegar nas transformações que se impõem na mudança social”, afirmou Filipe Cordeiro, porta-voz da associação, envolvido nas comemorações desde os anos 80.
Decorridos 51 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim ao regime ditatorial que vigorou em Portugal durante mais de quatro décadas, o responsável alertou para os desafios enfrentados hoje pela juventude.
“Estamos a viver momentos muito difíceis, onde o espaço para a juventude é cada vez menor. Os jovens não têm habitação, têm precariedade no emprego e, cada vez mais, estão a emigrar, depois de tirarem os seus cursos, porque não conseguem encontrar empregos compatíveis no país”, refere, acrescentando que “precisamos, efetivamente, de alguma mudança que possa consubstanciar uma sociedade que seja mais justa, mais fraterna e que dê oportunidades a todos”.
Na ocasião, Filipe Cordeiro sublinhou ainda a presença de mulheres em funções de destaque nas bandas: “Existem duas maestrinas e duas presidentes de banda, o que significa que as mulheres estão a tomar o seu lugar onde devem estar”.
Um dos músicos participantes testemunhou na primeira pessoa as mudanças trazidas pela revolução. É o caso de Manuel Costa, de 68 anos, membro da Banda Fundação Brasileira, dos Mosteiros, que define o 25 de Abril como “um despertar de mentalidades, de consciências”.
“Durante a minha vida, ouvia falar em casa dos meus pais na PIDE, naquilo que fazia, e que não se podia falar muita coisa (...) Enfim, eram tempos difíceis”, recorda o músico.
Tinha 18 anos em 1974, quando o golpe militar pôs fim ao regime, sem derramamento de sangue. A sua perceção é de que “as coisas melhoraram”.
“Economicamente, as coisas melhoraram. No ensino, havia um índice de analfabetismo grande e isso deixou de existir, foi gradualmente desaparecendo. A nível laboral, as coisas também foram evoluindo paulatinamente”, realça.
Ainda assim, considera que nem todos os ideais se mantiveram. “Há valores que se começaram a perder no tempo. Os políticos estão muito agarrados ao seu partido. Cada um puxa para o seu lado e, assim, não se resolve nada. Acho que eles têm que dialogar mais”, sublinha.
As comemorações também contaram com a participação de jovens. Para Lara Embaló, de 15 anos, membro da Filarmónica Eco Edificante, do Nordeste, o 25 de Abril significa “liberdade, poder expressar o que nós sentimos”.
“É uma data literalmente muito importante, porque vivemos agora com liberdade e podemos ter liberdade de expressão”, reforçou.
Beatriz Duarte, de 23 anos, estudante de Informática na Universidade dos Açores, marcou presença nas celebrações com um cravo na mão. Para si, o 25 de Abril representa “liberdade. É o humano ser aceite e ser como quer ser, ter a liberdade para ser quem é, para dizer o que acha. Tem a ver com os direitos de todos e igualdade em tudo”.